Por Eloi Zanetti*
Em algumas regiões do país, principalmente em Minas e São Paulo, é costume chamar de “sistemáticas” aquelas pessoas teimosas, que só fazem as coisas à sua maneira, donas da razão, com poucas habilidades intrapessoais. É comum também que se diga “aquele sujeito é sistemático” quando se quer definir alguém metódico, que segue os procedimentos e a burocracia ao pé da letra; que defende com unhas e dentes as suas opiniões, não ouve as dos outros, é incapaz de alterar o sistema em que vive, fechado às inovações e às novas ideias... Enfim, uma pessoa “certinha” demais.
Ser sistemático tem suas vantagens e desvantagens: pessoas assim fazem seus trabalhos de forma ordenada, disciplinada, seguindo passo a passo todas as regras estabelecidas. Porém, quando acontece algo diferente durante o processo, quando as circunstâncias sofrem alguma alteração, elas ficam perdidas e levam tempo para se adaptar. “Se está dando certo, por que fazer de outra forma?“, perguntam. Os sistemáticos não gostam de interferências e nem de palpites, por isso, em geral, são menos criativos.
Trabalham de forma automática, baixam a cabeça e vão em frente, muitas vezes com eficiência, desde que o rumo do trabalho não altere sua lógica e não interfira no seu cotidiano. Estabelecidas as regras, eles as seguem religiosamente. São exigentes com eles mesmos, mais racionais do que emotivos e até podem ser considerados frios e calculistas. Pode-se confiar em um sistemático porque ele vai fazer o que tem que ser feito, mesmo que de forma errada e improdutiva.
Muitos chegam a dizer: “eu não sou teimoso, teimoso é aquele que teima comigo”. A melhor maneira de se tratar com eles é deixá-los em paz e não interferir nas suas ações – mesmo porque não adiantaria nada.
A palavra “sistemático” é polivalente – serve para designar e adjetivar uma enorme gama de personalidades: ela pode nomear um sujeito comedido, disciplinado, regrado, metódico, detalhista, minucioso, meticuloso, rigoroso, cuidadoso, iracundo, constante, inflexível, prudente, sóbrio, esquisito, queixo duro, estranho, grotesco, lunático, maníaco, espevitado, ordeiro, mandão, chato, cabeça dura, excêntrico...
Jogadores de futebol sistemáticos são ótimos para as ações de distribuição da bola no meio de campo; eles seguem rigorosamente as orientações estratégicas e táticas do treinador. Dunga e Dirceu Lopes eram aplicados, sérios e úteis no andamento das partidas.
Já os craques se destacam exatamente por serem diferentes; surpreendem pelo improviso e pelo inusitado das suas ações. Mudam em segundos o andamento das partidas. Romário, um cara nada sistemático, não gostava de treinar; Dorival Caymmi também não gostava de ensaiar – dizia de forma irônica: “Não preciso ensaiar, já vim ensaiado da Bahia”.
Para o bom andamento dos processos precisamos dos dois tipos: dos objetivos e dos sonhadores, dos sistemáticos e dos indisciplinados. Um não vive sem o outro.
* Diretor de marketing de O Boticário.
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