As terras altas da Serra da Mantiqueira na divisa dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, são berços da Olivicultura no sudeste do Brasil desde a chegada dos imigrantes europeus, porem há cerca de 20 anos, olivais com objetivo comercial para produção de azeite e azeitonas de mesa transformam a paisagem e oferecem perspectiva a muitos investidores e trabalhadores.
O comportamento fenologico da oliveira apresenta frutificação em diversos locais das regioes sudeste e sul do Brasil, porém isso não é o suficiente para viabilizar o desenvolvimento do pacote tecnológico nacional para a cultura. Esse trabalho é realizado por instituiçoes de pesquisa, consultores e produtores que há cerca de uma decada geram informações que auxiliam a entender a exigência dos olivais em relação ao equilibrio edafoclimático, vegetoprodutivo e fitossanitário de cada variedade, o compartilhamento dessas informações entre os profissionais do setor e produtores é fundamental para o bom desenvolvimento da olivicultura no país.
A oliveira se desenvolve na serra da Mantiqueira em diferentes biomas que essa cadeia Montanhosa abriga em sua diversidade, os olivais normalmente circundam áreas importantes como Parque Nacional do Itatiaia, Parque Estadual da Serra do Papagaio e o circuito terras altas da Mantiqueira. As plantações ocupam diferentes geoambientes, o cultivo é realizado em encostas e terraços com cambissolos que se tornaram pastagem, vales com araucárias, complexos rupestres e campos de altitude com solos rasos, a vegetação nesses ambientes é formada por Floresta Ombrófila Densa Montana / Alta Montana / Floresta Ombrófila Mista, Mata de candeia (Eremanthus erythropappus), gramíneas nativas e pastagem formada para gado. Em geral os solos nos olivais da Mantiqueira originalmente apresentam baixa capacidade de troca de cations efetiva, elevados teores de aluminio, valores baixos de pH, exigem bom preparo pré-plantio e dedicação no manejo para criar e manter sua fertilidade, sendo os solos de campo, as cascalheiras, sob ponto de vista das características químicas do solo, os mais desafiadores na criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento das raizes da Oliveira.
O desafio de extrair o azeite extra virgem na Serra da Mantiqueira se especifica a cada ano dentro das experiências e realizações de cada produtor, a crescente na produção anual de azeitona poderia ser maior considerando o número de plantas que estão em idade produtiva e que são implantadas a cada ano, os olivais em produção estão em sua primeira década e meia de vida, temos motivos para comemorar e muito a ser aperfeiçoado no manejo dos pomares.
Construir o sistema de cultivo de acordo com as características e necessidades de cada local e variedade cultivada, visando sempre favorecer a colheita, poda e tratos culturais, ajudará no processo de construção do pacote tecnológico da olivicultura nacional, que apontará a necessidade de reestruturação das práticas agrícolas, principalmente relacionadas à produção de mudas, gestão da copa da oliveira e controle de vetores de doenças importantes na olivicultura mundial que começam a ser identificados e estudados nos pomares brasileiros. Outro ponto importante a ser debatido é a politica de gestão dos resíduos de extração que atualmente são pouco aproveitados e oferecem risco ambiental para a Serra da Mantiqueira e suas nascentes.
Grande parte dos pomares atualmente em produção foi implantada entre os anos 2000 e 2012, a forma de condução das árvores, importante fator dentro de qualquer sistema de cultivo, foi pouco trabalhada na maioria dos olivais que possuem entre 6 e 8 anos de idade, em muitas áreas foi adotado o arqueamento como técnica para abrir a copa das plantas. Existem olivais com árvores que cresceram livremente sem intervenção com poda ou arqueamento, pomares parcialmente conduzidos com poda e pomares parcialmente arqueados, os espaçamentos adotados são classificados como intensivos com 200 a 450 plantas por hectare, visto que na prática o que se adequa melhor as condições brasileiras é um numero entre 156 e 204 plantas por hectare, espaçamento com 8 metros entre planta e 8 metros entre linha e para implantações em complexos rupestres de altitude com solo raso, espaçamento com 7 metros entre plantas e 7 metros entre linhas de plantio, o espaçamento mais afastado permite melhor aproveitamento dos fatores gratuitos do sistema de cultivo, luz e vento, além de integração e consorcio com plantas herbáceas produtoras de óleos essenciais e flores, curcubitaceas e grãos para adubação verde.
Na região da serra da Mantiqueira as variedades de Oliva mais plantadas são Arbequina, Koroneiki, Grapolo 541, Grapolo 575, Ascolano, Arbosana e Maria da Fé. É preciso inserir novos plantios com variedades como Coratina, Frantoio e Picual, que possuem características diferentes das variedades já plantadas e podem contribuir para maior estabilidade e intensidade de aromas e sabores dos nossos azeites.
As considerações presentes sobre o comportamento das árvores submetidas à poda no sudeste brasileiro são fruto do acompanhamento do resultado prático no campo com olivais de 0 a 8 anos, associadas com os conhecimentos teóricos de poda na olivicultura mundial, aplicação de conhecimentos prático-teóricos da escola italiana, considerando as condições de solo e comportamento específico de cada variedade, submetidas às diferentes realidades de cultivo na Serra da Mantiqueira.
Dentro dos diferentes sistemas de cultivo, os que elegem espaçamento minimo de 7 metros entre planta, condução e formação de vaso policonico são mais adequados para os olivais brasileiros, pois proporcionam maior equilíbrio entre a porção de copa e raiz na planta, aumentam a disponibilidade de luz e o combate a doenças fúngicas, proporcionam produção de frutos mais sadios com maior concentração de azeite, mecanização dos tratos culturais e colheita facilitada.
Quando se opta pelo crescimento livre das árvores, o que impera a principio é a força vegetativa da planta, que imprime sobre o seu fenótipo, a facilidade ou dificuldade de obter os elementos necessários para seu crescimento equilibrado do ponto de vista fisiológico, nutricional, fitossanitário e estético.
A experiência de condução com crescimento livre das plantas até o sexto ano apresentou produtividade pouco satisfatória na análise prática do manejo dos pomares, pois compromete a formação e construção da forma da árvore em favorecimento de colheitas precoces e iniciais dentro da vida produtiva da planta, a falta de intervenção com poda no primeiro setênio, forma olivais que apresentam safras satisfátorias e declínio evidente na produtividade após a perda de vitalidade e sanidade decorrente do desequilíbrio entre a proporção lenho/folha das copas das árvores. A ausência de folhas e galhos na parte inferior e parte mediana da copa se agravam sem a quebra da dominância apical, o impulso de crescimento vertical descontrolado promove elevação da área produtiva, inviabiliza a colheita, pois os ramos de produção ou são muito altos e frágeis, devido a pouca idade da árvore, ou como em alguns olivais mais velhos, muito altos e rígidos, com acesso muito dificultado aos frutos, outro fator negativo é o constante abalo no sistema radicular ocasionado pelo vento, a movimentação da copa desproporcionalmente alta, gera uma força de alavanca na raiz ainda em formação.
Em sistema de cultivo intensivo com crescimento livre das árvores a verticalização excessiva e o distanciamento da vegetação com prolongamento da estrututa lenhosa da planta, gera um movimento centrífugo da copa, o que provoca sombreamento entre árvores e autosombreamento, o caos na forma da copa da árvore, causa redução da produtividade ao longo dos anos, inviabilidade no manejo fitossanitário e colheitas dificultadas. Poda anual orientada é imprecindísvel para manter a produtividade do olival, a renovação dos ramos é indispensável, pois o habito de frutificação da oliveira se dá em ramos jovens com mais de um ano de idade, desta forma seria dispensada a necessidade de reforma parcial ou total em olivais na ascenção do periodo produtivo, entre o 6º e 8º ano de cultivo.
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